segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018




Não quero pensar, nem ser amado, nem ser feliz, nem recordar. 
Só quero sentir esta luz nas minhas mãos 
e desconhecer todos os rostos
 e que as canções deixem de pesar no meu coração
 e que os pássaros passem diante dos meus olhos e eu não note que se foram.






 Antonio Gamoneda
(Foto de Cristina Coral)

sábado, 24 de fevereiro de 2018

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

metade da palavra amor




Pergunto-me o que andamos aqui a fazer
 em que andamos aqui a insistir
 agora que as tuas palavras já não são português
 para as minhas agora que os livros
 em português e outras línguas já não são
 motivo de conversas depois do jantar. 
 Se o teu corpo se demora num sono
 incerto eu tomo os gestos de rotina
 de uma casa como prolongamentos 
 dos teus a casa também cheia de sono
 pouco viva nós pouco vivos talvez
 com medo não sei talvez com medo.
 De um lado para o outro que andamos
 aqui a fazer? As palavras não se dizem
 voam num silêncio só delas quebram
 a paz falsa do teu sono do meu sono
 fazem barulho no pensamento do meu 
 sono confundem o meu silêncio 
 no delas. E aí vão ter contigo tão
 desfeitas e pobres no último sopro
 que já só diz metade da palavra amor.






 Helder Moura Pereira

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018




Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados 
 Como para os que o não são 







 Fernando Pessoa ( Alberto Caeiro )
(Foto de Laura Makabresku)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018





Sou suspeita de silêncio:
 Há semanas que calo as minhas
 palavras no botão de uma rosa 







Ulla Hahn
 (Foto de Anna O)

domingo, 11 de fevereiro de 2018




Quando o teu coração parou de bater
 o meu coração não parou de bater, 
o que é absolutamente descabido de sentido, 
talvez por isso, desde então, ando perdida.






 Raquel Serejo Martins

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018




Quem vai pagar o enterro e as flores 
Se eu me morrer de amores ? 





 Vinicius de Moraes

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Os livros fecharam-se com a nossa história dentro deles




O tempo cobre-se de musgo. Mas reconhecerei as ruínas daquilo que amei, daquilo que nomeei para entender o mundo. A vida já ali não estará, e eu lembro-me: nenhum recanto dos gestos me era desconhecido. Nenhuma sedução me era estranha. A noite foi-se tornando cada vez mais pesada sobre os ombros. As roupas deixaram de estilhaçar debaixo das carícias. Os olhares foram-se fixando, horas a fio, por entre os papéis amachucados, atirados ao chão. A máquina de escrever parou. Os livros encheram-se de poeira, fecharam-se para sempre com a nossa história dentro deles. Não voltaram a abrir-se. 






 Al Berto

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018




Amamos tanto
 E a perda é cotidiana
 e infinita






 Hilda Hilst
 (Foto de Nishe)

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

domingo, 4 de fevereiro de 2018




No meio dos longos silêncios
 por vezes embatemos um no outro
 e ou há faícas ou uma grande cinza 






 Helder Moura Pereira